Faz praticamente três meses que milhares de brasileiros estão isolados em seus lares, saindo apenas para realizar tarefas básicas como ir ao mercado ou a farmácia. A rotina, que antes envolvia escola, trabalho, idas ao shopping e passeios com os amigos ficou restrita à quatro paredes, gerando diversas sensações como: frustração, tristeza e ansiedade.
Essa sensação de “sentimentos a flor da pele” não é particular apenas para os adultos. As crianças, mesmo as mais pequenas, também estão apresentando mudanças de comportamento, conforme relata a psicóloga e psicopedagoga Amanda Amorim. “Em meu consultório o que mais se ouve é: ‘A minha casa está de pernas para o ar, a criança não está conseguindo me ouvir, está tudo inflamado’”, explica.
De acordo com a psicóloga, esta aparente regressão de comportamento, é compreensível, porém, muitos pais estão sentindo dificuldade em lidar com as pressões do trabalho, o cuidado com a casa e o cuidado com os filhos.
Com qual tipo de comportamento devo me preocupar?
“É preciso ficar atento aos extremos”, alerta Amorim.Durante o isolamento social é natural que haja mudanças no comportamento das crianças e adolescentes, afinal, estamos passando por um período de incerteza. Sintomas como birra, agressividade, irritabilidade, pavio curto e crises de choro são alguns dos mais apontados entre os pais, contudo, é preciso ficar alerta para os seguintes sinais:
Alimentação exagerada ou falta de apetite;
Duração e qualidade do sono;
Introversão e isolamento;
Agressividade;
Tristeza.
O que fazer?
Antes de mais nada, é preciso entender que cada pessoa possui uma realidade diferente, sendo assim, cada cenário exigirá também medidas distintas. Independente da situação, os responsáveis devem entender que, assim como eles, as crianças também possuem preocupações e incertezas com relação ao momento atual e que é necessário conversar sobre o assunto. “As crianças são como esponjas”, explica Amorim. “O que não é falado, não quer dizer que não seja percebido ou absorvido pela criança.”Ter uma conversa sincera pode ser desconfortável para muitos pais, entretanto, é uma ótima forma de acolher os filhos e acalmá-los. Vale lembrar que as palavras e a maneira como o tema é abordado deve ser específico para cada criança. “Uma dica dada pela especialista é: escute o que a sua criança tem para dizer e procure saber como ela está se sentindo. Faça perguntas como: “Quais são os seus medos?”, “O que você pensa sobre tudo o que está acontecendo?”, “Do que você sente saudades?”, “O que você está sentindo?”.
Ajudar os filhos a reconhecer os próprios sentimentos e emoções é uma forma de ajudá-los a construir uma estabilidade e maturidade emocional, incentivando também a prática da empatia.
Estabeleça uma rotina
Estabelecer uma rotina é fundamental em tempos de quarentena. Independente da idade da criança e se ela está ou não tendo aulas a distância, é importante determinar horários específicos para as atividades diárias. Junto com o seu filho(a), defina um horário para comer, dormir, jogar, estudar e reserve um momento especial para estar em família. Você pode fazer um calendário em uma cartolina ou em uma folha A4 e colar na geladeira, por exemplo.
Para aqueles que estão com aulas on-line, é importante reservar um espaço silencioso para que a criança e o adolescente possa estudar, sem distrações. Procure adequar a mesa ou a cadeira conforme a altura ideal, para não causar dor ou lesões.
Parece algo simples, mas estabelecer uma rotina gera uma sensação de alívio para a criança, principalmente para os mais novos, além de ajudar você a se organizar melhor para fazer o que precisa.
Encontre o equilíbrio entre aparelhos eletrônicos e brincadeiras
Ocupar o dia a dia das crianças mais novas e daquelas que não estão recebendo aulas on-line pode ser desafiador. Conciliar o trabalho com as tarefas de casa e o cuidado com os filhos é desgastante e, nesses momentos, as telas acabam sendo ótimos ajudantes. Recorrer ao YouTube, Netflix e celular faz parte do processo e, restringir, não é a solução. Contudo, os pais precisam ficar atentos ao tempo de exposição às telas. Problemas como disgrafia, alteração na escrita, são comuns em crianças que não realizam atividades que exigem movimento.
A psicóloga lembra que o cérebro é um órgão social, ou seja, ele necessita da troca de interação com o mundo externo e com outras pessoas para se desenvolver. Por isso a importância do brincar durante a infância. “Através da brincadeira a criança fará as conexões necessárias para aprimorar certas habilidades cognitivas e psicomotoras importantes no seu desenvolvimento,” explica.
Brincadeiras como pintura e colagem e massinha de modelar são ótimas opções para a garotada. Brinquedos pedagógicos e contação de história também são alguns exemplos de atividades que além de desenvolver habilidades psicomotoras, incentivam a criatividade.
Criança na cozinha? Sim!
Os jogos, o videogame e as brincadeiras não são as únicas formas de entreter as crianças. Amanda Amorim comenta que o próprio lar oferece diversas oportunidades de vias sensoriais que podem ser exploradas.
Um exemplo disso, é a cozinha. Muitos responsáveis - por receio ou por não quererem fazer sujeira - evitam incluir as crianças na preparação das refeições. De acordo com ela, trazer a criança para a cozinha é uma ótima forma de estreitar laços familiares e criar momentos divertidos. O simples ato de separar alimentos ensina habilidades de planejamento, além de trabalhar as funções executivas do cérebro e desenvolver a memória operacional.
Quer saber como você pode ajudar o seu filho(a) nesse período delicado que estamos vivendo? Veja abaixo a conversa que tivemos com a psicóloga e psicopedagoga Amanda Amorim, sobre “Estudo e saúde mental das crianças e adolescentes durante a quarentena”.
Assista:
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