Quando
algo não acontece como elas querem é aquele circo: choram, esperneiam, fazem
birra, enfim, recorrem a tudo para esgotar a paciência dos adultos até
conseguir o que desejam.
Com a
superproteção dos pais, não é difícil encontrar uma criança mimada por aí.
Porém, para o próprio bem da criança – e da família – é preciso contornar a
situação o quanto antes.
Dentro de casa
Um fato difícil
de contestar é que muito do comportamento de uma criança é resultado da
educação que ela recebe. Sua personalidade também tem forte interferência, mas
os valores e exemplos passados pela família por meio da educação exercem grande
força. “Se os adultos que a cercam estimularem, mesmo que de forma
inconsciente, o individualismo, a mediação da vida por dinheiro e status e a
superproteção estarão contribuindo para que a criança se torne mimada e sem
limites”, destaca a pedagoga Lisley Amado.
Este
comportamento pode ocorrer quando os pais, com o objetivo de fazer com que o
filho não passe pelas mesmas dificuldades ou problemas que eles viveram, tentam
poupá-los. No entanto, é um grande erro que colabora para a educação equivocada.
“Poupar os seus filhos dessa maneira é como se estivesse evitando criar
anticorpos emocionais para que depois ele possa sobreviver aos ‘nãos’ da vida”,
afirma a psicóloga Camila Cury, diretora do Grupo Educacional Augusto Cury.
Além disso,
compensar a ausência, evitar situações estressantes ou simplesmente querer
agradar, são outros fatores que fazem com que pais, avós, tios, enfim, os
adultos ao redor, mimem os pequenos, ainda que com boas intenções. Porém, o que
se vê depois é um ciclo de desejo e frustração, como explica Lisley: “A criança
fica cada vez mais cheia de vontades, disposta a consumir”.
Ausência
Para Camila, ao
mesmo tempo em que é necessário ensinar a criança a se colocar no lugar do
outro, também é preciso que os pais se perdoem, isto é, não se cobrem tanto
pelo tempo longe do filho devido ao excesso de trabalho, por exemplo, e com
isso não tentem compensar a ausência com agrados.
Querer dar o
melhor ao filho não necessariamente tem a ver com o poder aquisitivo dos pais,
afinal, não são somente crianças ricas que são mimadas. “O que existe são pais
que não sabem dosar o mimo, até porque, mimar é importante. Gestos carinhosos
criam um ambiente mais agradável e propício para um desenvolvimento emocional e
social do filho”, afirma o psicólogo Breno Rosostolato, professor da Faculdade
Santa Marcelina.
Outro ponto que
merece destaque é o exercício de compartilhar, que deve ser ensinado à criança
desde sempre. A psicóloga lembra que, antigamente, os pais praticamente não
tinham que ensinar a finco a criança a dividir, pois fazia parte da rotina em
uma casa com muitos filhos. Hoje, com o aumento de recursos e o menor número de
filhos, dividir, muitas vezes, não faz parte da experiência familiar. Por isso,
é preciso ser incluído no processo educacional, sempre os pais dando o exemplo.
Para Breno, a contradição dos pais entre o discurso e a ação é o principal
problema na educação dos filhos “Os pais devem ser referência para os filhos,
porque assim, eles terão uma base sólida e sustentação emocional para
realizarem suas escolhas”, destaca o profissional.
Meu filho é mimado?
Os
especialistas destacam que em uma época da infância, aproximadamente até os
seis anos de idade, é comum a fase do “é meu”, do egocentrismo, quando a
criança começa a ter uma melhor noção da possessão. No entanto, existem algumas
atitudes que pais e cuidadores podem adotar para evitar um comportamento
egoísta, principalmente nesta fase, como elogiar quando o pequeno compartilha
algo com você ou com outra pessoa. “Os pais precisam estar dispostos a corrigir
esse comportamento e estimular a criança a compartilhar”, afirma Lisley.
Birras, choros
e imposição de vontades são comuns a todas as crianças. O que os adultos
precisam se atentar é à frequência e à intensidade com que estas situações
ocorrem. Além disso, Camila chama a atenção para um detalhe importante: “os
pais precisam começar a perceber enão só repreender o comportamento da criança,
mas se questionar o que tem levado seus filhos a serem mimados”. Refletir, por
exemplo, se tem ensinado o pequeno a ouvir não, é um bom questionamento.
A pedagoga
destaca, porém, que se a criança tiver realmente grandes dificuldades com
limites, pode ser preciso buscar ajuda profissional, como um psicólogo ou
orientações da própria escola.
Na prática
Algumas dicas
para corrigir o excesso de mimos:
- Birra: os pais devem conversar com a criança
e respeitar a crise, afinal, ela está lidando com a frustração.
- Consumo: para evitar o consumo
excessivo de brinquedos, os pais podem estipular uma mesada. “Se ela gasta tudo
de uma vez, tem de esperar até o próximo mês para comprar alguma coisa. Assim,
ela vê a real função do dinheiro”, explica Lisley.
- Comunicação: a boa e velha
conversa é sempre o melhor caminho do que agressão e gritaria.
- Reeducação em família: valores éticos devem
ser vivenciados por todos da família para dar o exemplo à criança.
Consequências no futuro
Ter uma
infância mimada não significa, necessariamente, que ela implicará em
consequências ruins no futuro. No entanto, há mais chances de a criança se
tornar um indivíduo egoísta e com dificuldades para lidar com frustrações. “A
pessoa cria expectativas sobre a própria vida, pautada em idealizações. São
estas expectativas que levam à frustração, porque a realidade com que se
confrontam rompe com as fantasias”, explica Breno.
Ao ter que
lidar com diversas pessoas no convívio social, o adulto em questão percebe que
os outros não cedem a todas suas vontades. Além disso, tendem a não seguir
orientações de liderança, como do chefe no trabalho, ou críticas de colegas.
“Outra coisa que pode acontecer é tornar-se um chefe ou um líder que usa o
poder para maltratar, prejudicar e desprezar, impondo sua maneira de pensar”,
salienta Lisley.
Filhos caçulas
É comum a ideia
de que os filhos mais novos são também os mais mimados. Porém, é o
comportamento dos pais que reforça esta ideia. Pais superprotetores tendem a
achar que como é o filho mais novo, precisa de mais cuidados. “Os irmãos mais
velhos também podem acabar querendo cuidar do mais novo, tanto para se sentirem
superiores (por mandarem no mais novo), como por perceber esse comportamento
por parte dos pais”, destaca Lisley Amado.
Para a
psicóloga Camila Cury, pode acontecer, ainda, de os pais estarem mais relaxados
na última gestação, além de a idade interferir, pois os pais podem estar com
menos energia e motivação para dar limites. “Não é porque o filho é mais novo,
mas o momento dos pais é que faz a diferença em mimar ou não o filho”, salienta
Camila.
O psicólogo
Breno Rosostolato é enfático: “É necessário a coerência na educação e passar a
ideia de igualdade entre os irmãos”.
Nossas fontes:
Breno
Rosostolato, psicólogo
Camila
Cury, psicóloga
Lisley
Amado, coordenadora pedagógica
FONTE:
Artigo
desenvolvido pelo projeto NA MOCHILA, que em parceria com as escolas
oferece uma revista por bimestre aos pais de alunos do ensino Infantil e
Fundamental I.