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Texto: Rose Araujo.

As crianças de hoje, de uma maneira geral, têm mais dificuldade de compartilhar dos que as de antigamente. E isso se deve, em grande parte, ao estilo de vida moderno, que se baseia em recompensas materiais, influência demasiada de propaganda na mídia e o desejo de “ter” sobrepondo-se ao do “ser”. “O excesso de brinquedos, de presentes, alimenta a possibilidade de criarmos pequenos tiranos dentro de casa”, diz a psicóloga clínica Marcela Caiado de Castro.

Os pequenos acabam se acostumando com a ideia de posse e com o desejo de querer acumular bens, em vez de entender que as coisas materiais podem ser repartidas. E isso pode trazer consequências no futuro. “Não penso na formação da personalidade, porque é um comportamento que pode ser alterado futuramente, mas exige muito esforço, desgaste de toda a família e, em muitos casos, a necessidade de ajuda profissional”, destaca Marcela.

Ensinar aos pequenos o altruísmo e o desapego dos bens materiais é uma tarefa dos pais, que devem dar o exemplo e trazer esse tipo de situação para o dia a dia da família. “Os pais podem, desde os primeiros anos de vida dos filhos, doar roupas quando estas não servirem mais, brinquedos, que já não fazem parte da etapa do desenvolvimento em que o filho está. Claro que com o consentimento da criança”, destaca a psicóloga.

Ela sugere que essas práticas podem ser feitas em épocas festivas, como aniversário, Dia das Crianças e Natal. “Os pais podem argumentar dizendo que falta lugar para outras coisas novas no quarto, por exemplo”, ensina.

Dividir é somar

Existe uma fase da vida em que o senso de partilha é comprometido. Isso ocorre por volta dos dois anos e é algo inerente à fase de desenvolvimento da criança, de acordo com a psicóloga. É preciso exercitar o desapego e explicar para o filho que mesmo o que é dele pode ser compartilhado com outras crianças.

Quando a criança resiste a emprestar um brinquedo, não se deve fazer disso um problema, decidindo quem fica com o objeto. “Para mostrar para a criança que isso não está certo, convém explicar que todos podem brincar e que, se ela não emprestar, ninguém brinca. E retirar o brinquedo do alcance dos pequenos. Quando a criança pedir, deve existir outro momento da mesma conversa, acertando as condições da brincadeira: dividir. E o brinquedo só deve ser entregue quando a criança concordar ou depois que o grupo ou a dupla estiver dispersa ou o coleguinha for embora”, explica Marcela.

É comum também a criança argumentar que não quer emprestar porque o amiguinho vai quebrar o objeto. A psicóloga orienta que, se for um comportamento tranquilo, cabe aos pais mostrar, com paciência, a importância de dividir. “No caso da criança realmente sofrer por isso, causando estresse aos pais, deve-se pensar na possibilidade de buscar ajuda profissional”, salienta.

Exemplo

As crianças aprendem pelo exemplo. Para mostrar aos pequenos a importância de compartilhar, os pais precisam exercitar esse hábito. Uma das maneiras de incutir esse espírito altruísta nos filhos é incentivá-los de maneira lúdica. “Quando for com seu filho na casa de outra criança, incentive-o a levar um brinquedo para mostrar para o amigo. Assim, naturalmente, eles vão trocar, pois será interesse das duas partes o compartilhamento”, diz a psicóloga.

Dica!

É comum compensar ausência com brinquedos. Os pais que têm essa prática devem avaliar o quanto isso pode estar influenciando a maneira como o filho enxerga o mundo. A psicóloga Marcela Caiado de Castro destaca que as famílias não estão preparadas para o ritmo de vida moderno, no qual as mães, principalmente, precisam se ausentar muito tempo de casa para trabalhar. Para confortar os filhos, investe-se em presentes fora de época e acúmulo de brinquedos. “Os filhos aprendem que precisam dessa compensação e a educação pode perder o controle dos pais, adoecendo a família”, alerta Marcela. Por mais que seja reconfortante satisfazer os pedidos dos pequenos, os pais devem evitar esse comportamento.

Trabalhos domésticos

Ajudar nos cuidados com a casa também é uma maneira de incutir o senso de colaboração nas crianças. Dividir tarefas e responsabilidade mostra aos pequenos a importância de trabalhar em equipe e ajudar uns aos outros. De acordo com Marcela, apesar de reclamarem, eles se sentem importantes, sabendo que são capazes e, principalmente, que o vínculo de confiança entre eles e os pais está se fortalecendo. “Claro que deve ser feito pelos pais com uma mistura de carinho e imponência”, salienta a psicóloga.

Cada criança deve fazer o que é condizente com a idade e a capacidade dela. “Quanto mais cedo começar, maior facilidade terá em entender a colaboração com naturalidade.”
E vale lembrar que os cuidados domésticos não são coisas apenas de meninas. Os filhos homens também podem – e devem – ajudar nestas tarefas, já que todos são parte de uma mesma família.

Entrevistada

Marcela Caiado de Castro, psicóloga clínica

 

Fonte: Artigo desenvolvido pelo projeto NA MOCHILA, que em parceria com as escolas oferece uma revista por bimestre aos pais de alunos do ensino Infantil e Fundamental I.