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Ansiedade pré-provas: dicas para ajudar os alunos

Grande parte das escolas brasileiras ainda faz uso de avaliações formais como instrumento de verificação de aprendizagem. A pandemia da COVID-19 e a BNCC trouxeram reflexões e algumas mudanças relacionadas ao formato de avaliações escolares, porém, esse modelo continua em vigor.

Porém, outras formas de verificação de aprendizagem também foram associadas às provas.  A mudança parece pequena, mas significativa se considerarmos que é o início de uma transformação de um sistema que por décadas se manteve absoluto.

Se por um lado há tempos a escola clamava por mudanças, por outro existe um valor cultural ainda em exercício, inclusive por parte dos estudantes, na raiz de suas construções de valor, onde essas se tornam um dos principais temores dos alunos. 

Por outro lado, quantas vezes ouvimos professores dizerem que os alunos só se compromissam com atividades quando elas estão relacionadas a “pontos” no boletim?

Mesmo estando em processo de transformação, as avaliações formais ocupam um lugar no imaginário de crianças e adolescentes, como um “grande monstro” que existe no sistema escolar para os atacar, sendo um grande causador de ansiedade e nervosismo entre os mesmos.

O que faz os alunos sentirem essa ansiedade antes das provas?

Essa ansiedade em período de provas é uma das emoções que interferem no processo de aprendizagem. A ideia negativa colocada nas avaliações foi construída no seio das relações escolares e familiares. 

As famílias utilizam as avaliações para elogios, para punições e até para comparações. Isso também acontece nas escolas, inclusive entre os alunos. O aluno que é considerado bom é aquele que tira melhores notas. Ou seja, aquele que exibe o resultado quantitativo dessas avaliações. Esse, obtém lugar de destaque e muitas vezes é valorizado de forma diferente pelos educadores. 

Essa prática acaba depositando nas avaliações um peso que acaba por gerar medo de não atingir o desempenho esperado, vergonha de ter notas baixas e consequentemente ansiedade no momento das avaliações. 

A própria forma de ingressar nas universidades reforça esse sistema, e só nos últimos anos, as escolas perceberam a necessidade de trabalhar as habilidades socioemocionais e o quanto apenas resultados quantitativos não são garantia de felicidade e de realização. 

Dessa forma, todo o valor da aprendizagem fica depositada nesse desempenho, no resultado quantitativo, que não é necessariamente única forma de verificar a aprendizagem. E o que acontece com aqueles alunos que se mostram mais criativos mas não apresentam facilidade na organização de ideias escritas em um papel? Isso significa que ele sabe menos? Qual o valor da criatividade na hora de ser aprovado e garantir bons números no boletim?

Como psicóloga, atuando com adolescentes no Rio de Janeiro, recebi no consultório uma adolescente com queixa de insônia, ansiedade e irritabilidade excessiva, principalmente em épocas de provas escolares. 

Em períodos de provas, com certa frequência tem crise de asma mas se orgulha de ser boa aluna em uma das escolas mais “fortes” da cidade e que mais aprova no ENEM. A adolescente tem um irmão dois anos mais novo que teve que sair da mesma escola por ter sido reprovado. 

A adolescente critica o irmão por “não querer nada com o estudo”. Em outra escola da cidade, ele tem se destacado nas aulas de música e xadrez, mas ela se refere a ele como “burrinho” e que não estuda. E assim, os papéis familiares giram em torno dessa estigmatização e de reforço da ansiedade da filha mais velha.

A ansiedade de desempenho, essa que se relaciona às avaliações escolares costuma aparecer em três momentos: antes, durante e após as provas e testes. Na primeira fase, costuma girar em torno de pensamentos recorrentes, insegurança na hora de estudar, má gestão de tempo e insônia nos dias que antecedem a avaliação.

Durante a realização da prova, se expressam com sudorese excessiva, tremor, crises de choro e o famoso “deu branco”. Além dessas, na própria avaliação: rasuras, desorganização na escrita, erros por falta de atenção, necessidade de mais tempo, etc…

Alunos que apresentam ansiedade nesses momentos com frequência entregam laudos profissionais com indicação de maior tempo para conclusão das avaliações, ambiente mais tranquilo, em sala separada. E as escolas cumprem automaticamente o protocolo.

Já no período pós-prova retornam os pensamentos recorrentes de medo de fracasso, e ideias fantasiosas de reação à nota esperada. A redução da vida à uma nota é uma característica dos estudantes que vivenciam a ansiedade de forma excessiva e precursora de problemática de saúde mental de crianças e adolescentes.

Segundo relatório do Pisa – Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, a ansiedade  em momentos de avaliação está associada à percepção das provas serem ameaçadoras.  Segundo as pesquisas, o Brasil é o segundo país no mundo a com maior percentual de estudantes que ficam ansiosos em dias de provas, mesmo quando estudam e se preparam para elas.

A pesquisa ainda diz que existe uma crença limitante no Brasil de que a reprovação pode contribuir e ajudar o estudante a aprender que se conseguir se esforçar mais, terá melhores resultados, colocando como unilateral, e na mão do estudante a responsabilidade pelo insucesso nas avaliações. 

O que pode ser feito pelas escolas para modificar esse cenário?

– Trabalhar com os alunos os objetivos de uma avaliação.

– Focar no processo de aprendizagem dos alunos e em suas diversas demonstrações de aprendizagem.

– Contribuir para o entendimento da avaliação como fonte de aprendizagem e de diagnóstico das competências desenvolvidas e das suas dificuldades, entendendo como parte de um processo de construção de conhecimento.

– Estar atenta a atitudes que reforcem a crença de que bom aluno é aquele que precisa apresentar melhores notas. Isso diminui a competitividade e favorece vínculos de cooperação e construção coletiva.

– Em avaliações, fazer uso de técnicas de respiração, de meditação, que possam expulsar pensamentos negativos e estimular a concentração.

– Estimular e encorajar os alunos desmistificando o caráter ameaçador e destruidor das avaliações.

– Desenvolver atividades e estimular habilidades socioemocionais.

E as famílias, como podem contribuir para reduzir a ansiedade?

– Observe o nível de cobrança e estresse que a família está imprimindo no aluno, e principalmente o valor que está atribuindo ao desempenho acadêmico baseado em notas e no boletim.

– Estimule e reforce a curiosidade e a organização do estudante aos processos escolares.

– Estabeleça uma rotina de estudo para a criança e estimule o adolescente a desenvolver uma rotina organizada de estudo.

– Estabeleça uma rotina com hora para dormir. O sono é auto regulador e consolida a aprendizagem.

– Estimule a prática de exercícios físicos regulares.

– Acolha e estimule a criança e o adolescente a encarar desafios.

– Dialogue e ouça a respeito das dificuldades auxiliando o adolescente a encontrar soluções para resolver os problemas que surjam e momentos de resultados aquém ao esperado.

– Valorize o processo de aquisição de conhecimento e da diversidade de expressões de situações de aprendizagem. O erro faz parte do processo de aprender.

Conclusão

A ansiedade faz parte dos seres humanos. Porém é importante observarmos em que momentos ela nos atrapalha ou nos impede de caminhar na direção do que desejamos. Esse é muitas vezes o caso de crianças e adolescentes na hora de avaliações, e esse quadro é cada dia mais frequente na comunidade escolar.

Além de olharmos na direção da criança ou do adolescente que nesse momento necessita de cuidados diferenciados, precisamos olhar o sistema educacional, os professores, as famílias, e percebermos como essa representação veio sendo construída por toda comunidade ao longo de muitos anos. 

Hoje, década de atenção especial à saúde mental de nossas crianças e adolescentes, temos, todos, o compromisso de trabalharmos para que as avaliações possam ocupar apenas o lugar de mais um  instrumento de verificação de aprendizagem.

Juntos, podemos buscar ações eficazes que possam diminuir a força dessa valorização que reforça a distorção e reduz um estudante a um “bom ou mau aluno”.

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Referências

https://www.mundomaker.cc/80-dos-jovens-brasileiros-dizem-sentir-muita-ansiedade-durante-provas/

http://portal.mec.gov.br/ultimas-noticias/212-educacao-superior-1690610854/56071-dez-dicas-para-controlar-a-ansiedade-na-hora-da-prova

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