Realizar uma gestão de empresa familiar certamente não é fácil. Isso porque quando os sócios de uma empresa compartilham laços de sangue, é mais difícil separar o profissional do pessoal para encontrar a melhor solução para os conflitos. Dessa forma, é importante ficar de olho em algumas particularidades desse modelo de gestão para garantir o bom funcionamento dos negócios.
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Você com certeza já ouviu a expressão “amigos, amigos, negócios a parte”. Esse ditado faz sentido porque fala diretamente sobre como a lógica do mercado e dos negócios deve fluir. Quando se trata de gestão empresarial, é preciso deixar as emoções de lado para agir de forma racional, visando sempre o bem da pessoa jurídica. Mas quando a família faz parte do trabalho, ambientes pessoais e profissionais acabam se misturando e tornando o dia a dia mais complicado.
De acordo com dados do Sebrae, mais de 90% dos negócios no Brasil são empresas de perfil familiar. Isso significa que a gestão de empresa familiar é algo muito comum na nossa realidade. Esse pode ser o seu caso, se você fundou a escola em sociedade com seus irmãos, com o(a) cônjuge ou qualquer outro familiar. Essa formação do quadro societário não será um problema se você ficar atento aos desafios desse modelo empresarial e utilizar as melhores práticas na rotina profissional.
O que é uma empresa familiar?
Uma empresa familiar é aquela fundada e administrada por um ou mais membros de uma família. O controle dessas empresas é passado como herança para as próximas gerações, ainda que o quadro de gestão seja composto por membros de fora. Os familiares podem compor a equipe de comando técnico e estratégico, ou participar da execução direta dos trabalhos.
Mas isso não significa que as empresas familiares se restringem a micro e pequenas empresas. São exemplos desse tipo de gestão empresarial as multinacionais Tramontina, Nike, Walmart e Volkswagen. Todas essas empresas começaram pequeno até conquistarem o patamar que ocupam atualmente.
Desafios da gestão de empresa familiar
De maneira geral, ter familiares nos quadro societários ou de funcionários pode sugerir a ideia de redução de custos. A crença vem da concepção de que, por estar em família, o empregador não precisará seguir com rigor as leis trabalhistas e poderá adotar a informalidade em qualquer. Esse pensamento é um grande engano e em muitos casos é a razão para o insucesso do negócio, bem como das relações pessoais. Sendo assim, é preciso adotar uma conduta ética, profissional e inteligente para que a gestão de empresa familiar tenha uma rotina eficiente.
Hierarquização
A informalidade dos acordos e da estrutura hierárquica pode gerar inúmeros problemas para a empresa, especialmente na tomada de decisão. A organização de funções e competências entre os sócios é fundamental para a condução das atividades econômicas. O organograma escolhido para o âmbito de trabalho jamais deverá ter impacto nas relações do âmbito familiar pessoal e não deve ser visto como barreira.
É preciso ter em mente que essa hierarquia será indispensável para decidir, por exemplo, o momento certo para se realidar um novo investimento. Ou ainda na adoção de melhorias pedagógicas para a prestação de serviço educacional e na reforma do prédio. A posição de liderança vai ser usada para dar a palavra final sobre qualquer decisão. Portanto, a organização deve ser respeitada entre os sócios e funcionários independente se eles são primos, irmãos ou cônjuges.
Controle das emoções
Se no ambiente profissional formado estritamente por relações de trabalho já é difícil controlar as emoções, imagine quando os colegas de trabalho são seus familiares. Por conta desse desafio, a gestão de empresas familiares exige uma inteligência emocional muito maior. Isso porque é mais fácil trazer para as discussões de trabalho questões mal resolvidas em casa, e vice-versa.
Dessa forma, maturidade e profissionalismo são peças chave para tratar qualquer impasse ou eventual conflito, seja qual for o grau de parentesco entre as partes. Não é tarefa fácil atingir esse nível de profissionalismo, por isso devem ser feitos exercícios diários, como o respeito da hierarquia e a construção de mentalidade que dissocia as duas eferas.
Mesmo que o ambiente seja descontraído e o clima entre os demais funcionários seja leve, é preciso separar o que diz respeito à pessoa jurídica (empresa) e às pessoas físicas (indivíduos/familiares). Além disso, os privilégios e tratamentos diferenciados para os membros da famílias podem gerar mal estar entre os demais colaboradores, abrindo espaço a criação de um ambiente tóxico de trabalho.
Conflito de interesses administrativos e familiares
Os interesses familiares não devem ser confundidos com os objetivos do negócio, assim como as finanças pessoais também não devem se misturar com a administração da empresa. Um erro comum é pensar que a grande vantagem da empresa familiar é ter menos custos administrativos. Como já dissemos, é crucial separar as pessoas físicas da jurídica.
Dessa forma, a gestão financeira deve ser executada de maneira muito transparente. As regras sobre pagamentos, participação e retirada dos lucros devem ser bem estabelecidas, mas acima de tudo respeitadas. O intuito é promover a sustentabilidade e manutenção do crescimento do negócio. Além disso, os pagamentos de salário e pró-labore devem ser compatíveis com as funções desempenhadas.
Falta de profissionalização
Com frequência os interesses familiares são levados mais em conta no momento da contratação ou delegação de funções. Entretanto, as habilidades técnicas não podem ser ignoradas. O profissional contratado para exercer determinada função deve ter a capacidade técnica necessária para executar tal trabalho.
Para que a empresa cresça e desenvolva seu potencial é preciso ter uma mão de obra qualificada. Na grande maioria das vezes isso significa contratar alguém de fora, o que não deve ser visto como um ponto negativo. Um olhar de fora ajuda a minimizar conflitos e controlar as emoções em momentos decisivos. Além disso, o profissional também contribui com seus conhecimentos e experiências prévias.
Por outro lado, se a contratação de terceiros não se aplicar à realidade do negócio, é preciso investir na capacitação dos membros da família. Qualquer empresa, seja ela familiar ou não, deve investir na capacitação de seus funcionários para entrega e execução de um trabalho cada vez melhor.
A falta de investimento educacional nos funcionários pode acabar gerando uma falta de comprometimento quando se trata da gestão de empresa familiar. Somando com isso a falta de hierarquização e os demais pontos que já comentamos, temos a receita perfeita do desastre.
Sucessão na gestão de empresa familiar
A sucessão pode ser um momento complexo e traumático para a empresa toda. Para evitar problemas, o primeiro passo deve ser identificar o interesse dos sucessores em assumir o negócio. A conscientização sobre a preservação do patrimônio criado pelo patriarca ou pela matriarca deve começar desde cedo. Dessa forma, filhos ou netos adquirem o entendimento de que vão assumir a empresa porque querem e não porque precisam.
Se nenhum dos herdeiros quiser assumir a empresa, uma das saídas é vender o empreendimento. A insistência com sucessores que não se identificam com o negócio levam o estabelecimento ao fracasso em um curto espaço de tempo. De acordo com o Sebrae, mais de 70% das empresas não resistem à segunda geração.
As boas práticas de gestão no modelo familiar levam a fins mais positivos. Assim, é recomendado que se elabore um plano de sucessão com o máximo de antecedência possível. O herdeiro deve estar ambientado e capacitado para assumir a nova posição dentro da empresa. Vale observar que o plano deve ser flexível, de modo a ser readequado quantas vezes for necessário ao longo de sua execução.