Falar de comunicação e gestão escolar em tempos de crise não é fácil. Crises nunca são desejadas, mas elas sempre podem ocorrer. Um erro muito cometido pelas empresas, e isso também inclui as escolas, é não se preparar para esses momentos difíceis. Assim, quando a crise chega, fica ainda mais complicado de se lidar com a situação. A crise trazida pela pandemia do novo coronavírus (COVID-19) atingiu proporções inimagináveis e por isso marcará a história. Nesse sentido, como a comunicação pode ajudar a gestão escolar?
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Sabemos que crises podem acontecer em diversas dimensões (estadual, nacional ou global) e em diferentes setores (econômico, sanitário, fiscal, etc). Por se tratarem de crises externas, é muito difícil prever quando elas acontecerão e como serão os efeitos, especialmente quando olhamos para a comunidade escolar. Contudo, a maneira com que as escolas lidam com situações cotidianas diz muito sobre como ela lidará com questões de maiores proporções, como as crises.
Desse modo, a comunicação é uma ferramenta essencial, pois é por meio dela que a escola estabelece suas relações de parceria com a comunidade escolar. Uma comunicação efetiva garante a satisfação dos pais, desperta o interesse nos alunos e motiva os recursos humanos da instituição. Assim, comunicação e gestão escolar são dois assuntos que devem andar sempre juntos, não apenas em momentos de crise. Gestores que cultivam bons relacionamentos e realizam uma boa comunicação estão preparados para enfrentar crises. Uma boa comunicação gera:
- Confiança;
- Proximidade;
- Familiaridade;
- Senso de pertencimento;
- Fidelidade;
Comunicação e gestão escolar: como fazer?
Crises podem gerar os mais diversos sentimentos e trazer diferentes problemas. Em momentos de incerteza, as pessoas tendem a procurar por familiaridade, seja na busca por informações e principalmente nas situações em que precisam tomar decisões financeiras. Confiança e familiaridade são sentimentos construído ao longo do tempo. No caso das escolas, o bom relacionamento deve ser cultivado desde a matrícula, quando se trata dos pais, e no momento da contração, se estivermos falando do corpo docente.
A pandemia do novo coronavírus trouxe para as escolas duas grandes preocupações: uma com o aspecto financeiro e outra quanto a manutenção das atividades educativas. De um lado, famílias preocupadas com o orçamento doméstico, receosas sobre a manutenção de suas fontes de renda e desorientadas sobre o funcionamento das aulas a distância. De outro, professores sobrecarregados com a nova dinâmica de ensino, enfrentando dificuldades com a tecnologia e se reinventando a cada aula. E nesse meio, a gestão se encontra perdida, preocupada em manter seus compromissos com funcionários e buscando ferramentas para fazer o ensino continuar.
Nesse cenário, não existe uma resposta única para todas as perguntas. Cada escola, dentro de sua realidade, está enfrentando seus próprios problemas. Mas, o que pode ser usado como estratégia comum é a comunicação.
Primeiramente, é importante dizer que a comunicação nunca deve ser vista como uma via de mão única. Cabe ao gestor construir um espaço de comunicação aberta, no qual o diálogo seja incentivado. Da mesma forma que a escola envia mensagens para a comunidade, ela também deve ser mostra disponível para receber mensagens. O estabelecimento de uma relação de parceria permite que a escola resolva conflitos de maneira eficiente e consiga também ser transparente em seu processo de tomada de decisão.
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Organizando a comunicação da gestão escolar
Alguns pontos são importantes para que a comunicação seja feita de maneira organizada. Em geral, os mesmos pontos de uma comunicação de crise servem para a organização da comunicação em dias normais. Durante os momentos de incerteza, é importante que a gestão assuma uma postura otimista mas também realista. Existe uma grande abundância de informação, vindas de todos os lados, e os ruídos e interferências são inúmeros.
Portanto, para oferecer informações relevantes e não ser apenas mais um canal de notícias ruins, a escola deve estruturar sua estratégia comunicativa da seguinte forma:
Usando ferramentas e canais apropriados
Escolher os canais adequados para transmitir as mensagens é muito importante. Saber por onde transmitir sua mensagem é tão importante quanto saber qual é a mensagem. Somente conhecendo a comunidade escolar é que gestão saberá quais canais são apropriadas para sua escola estar presente.
Quantidade não é melhor que qualidade. Ter muitos canais de comunicação pode ser ineficiente se não existem pessoas para responder por esse canais. Os pais que entram em contato com a escola esperam por respostas, portanto, os canais devem ser conferidos diariamente e as mensagens enviadas nos canais devem estar alinhadas.
No caso dos professores, a gestão também deve usar seus canais corporativos para atualizar os profissionais sobre o andamento das coisas. é importante lembrar que os professores estão em contato direto com os pais e os sentimentos deles também são refletidos na comunicação que fazem. Portanto, a gestão deve ter sempre em mente que o seu relacionamento com o corpo docente também afeta o seu relacionamento com os pais.
Determinando o tom do discurso e da mensagem
A formalidade da mensagem deverá sempre estar de acordo com o perfil da comunidade escolar. O tom do texto é fundamental para determinar o sentido da mensagem. Não é interessante adotar uma postura super otimista, pois ela pode acabar desviando a gravidade das situações. Contudo, mensagens de otimismo são valiosas para os momentos difíceis. Escolha um meio termo entre os lados. Envie comunicados que reflitam a realidade da instituição e da realidade externa, mas também use uma dose de positividade para não apagar as esperanças.
Estabelecendo uma frequência
Não é preciso bombardear seus canais de comunicação com avisos diários. É importante enviar mensagens atualizadas mas contatos muito frequentes podem diminuir a importância dos comunicados. Um ótimo exemplo são os grupos do WhatsApp, facilmente silenciado pelos usuários quando muitas mensagens desnecessárias são enviadas. Estabeleça um cronograma de comunicação semanal e siga um padrão dentro dele.
Parceria entre pais e escola
Essa parceria deve ser pensada como uma jornada de experiência do cliente, cujo trabalho de relacionamento começa no momento em que os pais ainda estão conhecendo a escola. Se a família escolheu aquela instituição, dentre todas as opções, é porque ela acredita que a aquele lugar fará a diferença na vida de seu filho. Portanto, cabe a gestão fazer com que as expectativas iniciais sejam correspondidas ao longo do ano, para que parceria se estenda até quando for possível.
Muitos gestores acabam dando mais atenção para a captação de alunos, se esquecendo que também precisam olhar para a retenção. Se a gestão realiza um bom trabalho durante o ano, cumprindo com os combinados estabelecidos no momento da matrícula, a tendência é que cada vez menos os alunos queiram trocar de escola.
Nesse sentido a comunicação se faz importante por ser a ferramenta utilizada para medir a satisfação dos pais e alunos quanto ao serviço educacional prestado. Além disso, é também por meio dela que a escola estabelece um ambiente aberto para o diálogo, mostrando sua disponibilidade em ouvir as insatisfações, sugestões e problemas.
Quando a gestão escolar realiza seu trabalho de maneira transparente, fica mais fácil para as famílias encontrarem na figura da escola uma ambiente seguro para enfrentar momentos difíceis. Por confiarem na escola, os pais sabem que as medidas serão tomadas de acordo com os valores que ambas as partes compartilham.
Relacionamento com o corpo docente
O corpo docente é uma peça chave na construção do conhecimento. A gestão nunca deve esquecer que os professores também devem refletir os valores da instituição, portanto preciso ter apoio para realizar seu trabalho. Por estarem lidando diretamente com os alunos, eles são os principais avaliadores da qualidade do ensino. Somente o dia-a-dia da sala de aula é capaz de mostrar a eficácia ou não das medidas adotadas pela gestão.
Nesse sentido, é importante que o gestor reserve um tempo de sua agenda para conversar com os educadores. Se em em dias normais eles são o termômetro da escola, em momentos de crise os professores são a vitrine da escola. O gestor deve se aproximar ainda mais do coordenador pedagógico e garantir que as necessidades estão sendo supridas, assim como as reclamações e sugestões.
Falando mais especificamente da atual pandemia, é crucial que os gestores escutem os professores. A nova dinâmica de aulas a distância não tem sido fácil por muitos motivos: despreparo para utilizar os equipamentos tecnológico, falta de suporte para elaboração das aulas, ineficiência da conexão, sobrecarga, preocupações quanto ao futuro da instituição, dentre outros. Entender como está a saúde mental dos professores é fundamental para todos consigam passar pela crise juntos.