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Palavras de Incentivo: Use Sem Moderação

É comum que pais e responsáveis façam todo o possível para que a criança se torne um adulto bem-sucedido: escolher a melhor escola, matricular em cursos extracurriculares e esportes, cobrar boas notas. Mas, além disso, existe um hábito simples que pode fazer toda a diferença no desenvolvimento dos pequenos: a escolha das palavras em casa, isto é, a forma de incentivar.

“A palavra é de extrema importância no incentivo, sabendo que a criança se compromete com aquilo que ela ouve. O desenvolvimento vai ser baseado no que ela escuta que pode fazer ou que não pode”, destaca o pedagogo Dan Barros.

Negativas ou positivas, as palavras usadas em casa interferem diretamente na autoestima da criança. Por exemplo: se ela tem vontade de tocar um instrumento musical, mas demora a aprender, o incentivo dos adultos vai fazer a diferença nas novas tentativas e até no sucesso da tarefa. Ao receber palavras positivas, a criança desenvolve autoconfiança e, ao acreditar que pode fazer algo, o trabalho se torna mais prazeroso e até mais fácil.

Acreditar em si mesmo é um processo

“Autoestima nada mais é que a confiança em si mesmo. É construída ao longo dos anos e marcada já nas primeiras experiências de vida, pelo amor dos pais, pelo carinho da família, pela consideração das pessoas ao redor e também pelos feedbacks recebidos”, diz o escritor e neuropsicólogo Eduardo Shinyashiki. E é essa confiança construída na infância que permite que a criança tenha mais facilidade para fazer amizades, estabelecer relações afetivas equilibradas, conquistar respeito no trabalho e acreditar em seus próprios objetivos e projetos, ou seja, tornar-se um adulto que saiba do que é capaz.

Evite o desestímulo…

Pode passar despercebido para o adulto quando frases como “Você não consegue fazer isso” ou “Você não faz nada direito”, ditas sem pensar muito no momento. Porém, elas podem influenciar o desempenho da criança em diferentes aspectos da vida. Segundo o pedagogo, palavras de desestímulo não são esquecidas facilmente.“É como se fossem para o HD, o hard disk da criança, e permanecem lá. Frases como ‘você nunca vai conseguir jogar bola’, ‘você nunca vai fazer tal coisa’, ‘você não tem condições de aprender isso’, não devem existir na criação de um filho, não devem estar num ambiente de desenvolvimento”.

Para Barros, muitas vezes essas ações são baseadas nas frustrações pessoais. “Por exemplo: se eu tenho problema de equilíbrio e nunca consegui andar de skate por isso, acabo tendo medo de dar o skate para o meu filho, digo ‘você não vai conseguir fazer isso’. Nós evitamos a vivência pessoal, o medo, e deixamos opaco o desenvolvimento infantil”, completa. Assim, a recomendação é prestar atenção se essas frases estão presentes no lar com frequência e tentar ao máximo evitar transferir os próprios receios ou frustrações para as crianças.

…E estimule a criatividade!

O que tem sentido para as crianças algumas vezes não faz sentido para os adultos. Ainda assim, é necessário compreender a realidade dos pequenos e fazer elogios, incentivá-los a continuar com o trabalho e melhorar sempre. “Por exemplo, na fase das garatujas, que são os desenhos incompreensíveis, mas que para eles têm significado. São motivos de orgulho para as crianças e é preciso tratá-los da melhor forma possível, dizer que são bonitos, pedir para que desenhem mais, receber esse produto de forma positiva”, comenta Barros.

Apesar de as garatujas serem um produto de uma fase em que as crianças ainda não têm tantas habilidades, o conselho é válido para qualquer fase da vida, ainda que mudando o jeito de incentivar. “Você pode treinar mais e melhorar”, “Está bom, continue fazendo! ”, entre outras frases de parabenização e incentivo podem colaborar para que a criança aprimore suas capacidades com o tempo e, autoconfiantes, tenham vontade de fazer coisas novas e saibam lidar melhor com os medos. “Acredito que uma criança confiante é uma criança que experimenta bastante. Se ela é forrada de cuidados superprotetores, acaba sendo uma criança de pouca confiança, já que nada ela pode, não conhece, não sabe como as coisas funcionam.

Então, atenção pais! Promovam um ambiente de experiência: deixem criança mexer em papel, fósforo, sempre com supervisão. Vai se queimar? Talvez sim, mas na frente dos responsáveis, com ajuda e orientação. A experiência é importante, senão a criança cresce sem saber o que o fogo faz, o que a tesoura faz, e vai chegar o momento em que ela precisará lidar com isso”. Assim, não só as palavras, mas também as ações de incentivo, podem criar oportunidades para o desenvolvimento na infância.

Incentivo ou mimo?

Pelo medo de tornar a criança egocêntrica, é comum economizar em elogios ou partir para o tradicional “não fez mais que a obrigação”. Porém, há diferença entre incentivar e mimar a criança a ponto de ela se tornar narcisista. “Mimar é tornar a criança passiva de obedecer aos limites. A criança cresce mimada porque não sabe, por educação paterna, materna, familiar, quais são as bases limitadoras. É preciso explicar o que pode e o que não pode, a criança precisa saber o que é errado – se ela faz o que quer e os adultos não explicam que aquilo não deve ser feito, então reforçam esse comportamento – e isso é mimar”, explica o pedagogo. Assim, uma vez que a criança conheça os limites impostos pelos responsáveis, não há motivos para barrar as palavras de incentivo.

Benefício que perdura

Crianças autoconfiantes têm mais chances de se tornarem adultos bem-sucedidos – por isso, cuidar da autoestima desde cedo pode render frutos no futuro. “No momento em que o indivíduo se valoriza, reconhecendo as suas próprias qualidades, os outros passam a admirá-lo. Os líderes nas empresas e organizações sabem disso: a valorização ao profissional é um fator essencial, indispensável no ambiente de trabalho e nos relacionamentos interpessoais e de equipe”, destaca Shinyashiki

“Quando a confiança construída na infância é suficientemente forte, ela permite mais facilmente construir amizades, estabelecer relações afetivas equilibradas, fazer valer os próprios direitos, o respeito no trabalho e ter confiança nos objetivos e projetos” (Eduardo Shinyashiki).

Nossas fontes:

Dan Barros é pedagogo e pós-graduando em psicanálise

Eduardo Shinyashiki é escritor e mestre em neuropsicológica

FONTE: Artigo desenvolvido pela Na Mochila, que em parceria com as escolas oferece uma revista por bimestre aos pais de alunos do ensino Infantil e Fundamental I.

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