Já faz algum tempo que tomamos consciência da importância de se trabalhar a sustentabilidade na escola. Respeitar e cuidar do planeta é responsabilidade de todos e as crianças podem aprender isso desde cedo. As mudanças climáticas, o lixo nos oceanos, a preservação dos animais e o uso de energias renováveis são assuntos que podem ser abordados por meio de projetos. A escola sustentável de hoje impactará diretamente no planeta que teremos amanhã.
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Embora estejamos mais conscientes sobre a preservação ambiental do que há algumas décadas, ainda seguimos produzindo muito lixo. De acordo com o estudo “Solucionar a Poluição Plástica: Transparência e Responsabilização”, organizado pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF) em março de 2019, o Brasil é o quarto país no mundo que mais produz lixo plástico. Anualmente, são produzidas 11,3 toneladas, das quais somente 1,28% são recicladas. O número está bem abaixo da média anual, que é igual a 9%.
Ainda segundo o estudo da WWF, cerca de 10 milhões de toneladas de lixo plástico vazam para o oceano anualmente. Nesse ritmo, serão lançados ao mar o equivalente a 26 mil garrafas garrafas de plástico para cada quilômetro quadrado (km2) até 2030. Aproximadamente metade dos produtos plásticos que poluem o mundo hoje foi criada nos anos 2000.
Dados do Banco Mundial revelam que no Brasil, mais de 2,4 milhões de toneladas de plástico são descartadas de forma irregular, sem tratamento. Além disso, aproximadamente 7,7 milhões de toneladas de lixo são destinados a aterros sanitários. Vale lembrar que a poluição do plástico afeta a qualidade do ar, do solo e os sistemas de fornecimento de água.
Falar de sustentabilidade na escola também é falar de lixo
Quando se trata do resíduos urbanos, os números são ainda mais alarmantes. Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), de 2010 até 2020, o país aumentou em 11% a produção de resíduos sólidos urbanos. Passamos de 71,2 milhões de toneladas por ano em 2010 para 79 milhões de toneladas em 2020. Individualmente, cada cidadão tem produzido cerca de 1,6% mais lixo por ano.
Os dados revelam que o Brasil avançou pouco desde a promulgação da lei que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), em agosto de 2010. Ainda que a cobertura da coleta seletiva tenha subido de 89% para 92% nos últimos dez anos, cerca de 6,3 milhões de toneladas de lixo são abandonadas no meio ambiente anualmente. Esses números fazem parte do Panorama dos Resíduos sólidos 2018/2019.
Nesse sentido, vemos que o sistema atual de produção e descarte do lixo já não é mais adequado, colocando em destaque a necessidade uma mudança de comportamento. Se por um lado a poluição do plástico é uma das mais preocupantes, precisamos ficar de olho na demais poluições: de eletrônicos, de vestuários (roupas e calçados), do ar, dentre outros.
A escola tem o papel fundamental não apenas na orientação sobre essas questões, como também em dar o exemplo. Isso porque como ambiente de formação de valores e consciência cidadã, a escola tem o dever de se comprometer com a causa ambiental e ir além das questões mais usuais.
A sustentabilidade na escola deve ser tratada de forma mais ampla, abordando a relação do indivíduo com o planeta e o equilíbrio necessário para que esse relacionamento seja duradouro.
Abordando a sustentabilidade por questões mais amplas
Nesse sentido, a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) serve de grande ajuda para as escolas. A Base prevê que a área de Ciências da Natureza seja trabalhada ao longo do Ensino Fundamental de modo a proporcionar aos alunos uma nova perspectiva sobre o mundo. Além disso, também está previsto o estímulo a tomada de decisões conscientes, competência necessária aos profissionais do século XXI.
A escola deve ser capaz de aprofundar as discussões da pauta ambiental sempre de acordo com a idade e ciclo de ensino. Comportamentos sustentáveis contribuem para o uso consciente dos recursos naturais, a diminuição do desmatamento e da produção dos diversos tipos de lixo. Pequenas atitudes já podem contribuir imensamente para a preservação ambiental e listamos algumas delas abaixo.
1- Coleta seletiva e reciclagem
Como dissemos no começo, é impossível tratar de sustentabilidade escola sem falar de coleta seletiva e reciclagem. Muitas escolas têm as lixeiras de coleta seletiva mas pouco educam os alunos sobre o descarte correto dos objetos. A embalagem de papelão engordurada não pode ser reciclada, por exemplo, assim como o potinho de iogurte precisa ser lavado antes de ir para a lixeira.
A escola pode organizar seminários com ONG’s e cooperativas locais para educar os alunos sobre essas questões. Além disso, a escola também pode se articular com os produtores rurais da região para destinação correta do lixo orgânico, que pode ser transformado em adubo.
2- Redução da produção de lixo
Falamos muito sobre reciclagem e acabamos esquecendo de falar em redução. Nós contribuímos para a diminuir produção de lixo quando:
- escolhemos utensílios reutilizáveis;
- optamos por não imprimir aquele relatório que pode ser enviado por e-mail;
- levamos nossas próprias sacolas para o mercado;
- e até mesmo quando diminuímos o ritmo de consumo de produtos industrializados.
Dentro da escola, os funcionários devem ser incentivados a usar suas próprias canecas para tomar café e os processos na secretaria devem ser digitalizados para reduzir o uso de papel. Na sala de aula, os professores podem usar agendas, boletims escolares e diários de classe digitais, enquanto os alunos devem ser orientados a usar menos sacolinhas plásticas, trazer seus copos ou garrafas para tomar água, e etc.
Sozinha, a reciclagem não será suficiente, é preciso também diminuir a quantidade de lixo produzido. A redução vem a partir de escolhas conscientes e responsáveis de consumo.
3- Economizar água
O incentivo a economia de água deve existir até que aprendamos que é preciso economizar água. Reduzir tempo do banho, reaproveitar a água da máquina de lavar roupas, lavar a louça com agilidade, e todas essas medidas que já conhecemos. No entanto, a escola pode aprofundar os debates debates sobre economia da água ao tratar de questões como saneamento básico, grandes indústrias e a poluição dos rios.
4- Preservar a natureza
Quando falamos de sustentabilidade na escola, não podemos esquecer que o tema não se restringe ao microambiente escolar. As crianças precisam desenvolver a consciência de que os animais também têm seus lares e que estamos invadindo cada vez mais esse espaço. Segundo dados de monitoramento por satélite divulgados no dia 07 de agosto pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a destruição da floresta amazônica aumentou 34% nos últimos 12 meses, em comparação com o mesmo período do ano anterior.
Isso significa que somente na Amazônia, mais de 9,2 mil quilômetros quadrados (km2) de floresta foram derrubados entre agosto de 2019 e julho de 2020. Além de desabrigar e provocar a extinção da flora e fauna nativa, o desmatamento também contribui para o agravamento do aquecimento global. Portanto, é preciso educar as crianças a pensar sempre no meio ambiente e nos impactos da ação humana para a natureza.
Nesse sentido, a escola pode organizar projetos de plantio de árvores, cultivo de jardins e hortas na comunidade ou dentro da própria instituição.
5- Incentivar a rede de carona entre os pais
Pode não parecer, mas incentivar uma rede de carona entre os pais também é uma ação de sustentabilidade na escola. Além de diminuir o tráfego de veículos nos horários de entrada e saída, a carona pode ser uma mão na roda para pais que trabalham e ainda contribui para a diminuição de gases do efeito estufa.
A mesma rede de carona pode ser usada para incentivar atividades pós horário escolar, como grupo de estudos, clube do livro, práticas esportivas e socialização.