A obesidade infantil não é um problema novo. Especialistas da área da saúde têm olhado atentamente para o tema há algum tempo mas a pandemia do novo coronavírus (COVID-19) deve agravar a situação. Isso porque o isolamento social afastou as crianças da escola e de suas atividades físicas, fazendo com que elas passassem grande parte do seu tempo em frente às telas. Ainda que a distância, a escola precisa orientar as famílias sobre a importância da alimentação saudável e da prática de atividades físicas, mesmo que seja em casa.
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Dentre os diversos sentimentos provocados pela pandemia estão a tristeza, o estresse, o tédio, o medo e a ansiedade que, em muitos casos, acabam levando as pessoas a hábitos não saudáveis. Com a impossibilidade de sair de casa com frequência para ir às compras, grande parte da população diminuiu o consumo de verduras e frutas, passando a consumir mais produtos processados, como biscoitos, embutidos, salgadinhos, congelados, chocolate e doces em geral. Essa alimentação pouco saudável associada a uma rotina de pouco ou nenhum movimento físico é uma combinação que elevará os índices de obesidade em todo o mundo.
Um panorama da obesidade infantil
Um estudo realizado por pesquisadores do National Cancer Institute, nos Estados Unidos, e publicado em 29 de maio deste ano revelou que mais de um quarto das calorias consumidas por jovens e crianças de 2 a 18 anos no país são chamadas de calorias vazias. O termo é utilizado para se referir a valores calóricos que não oferecem nutrientes importantes.
Aqui no Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), uma em cada três crianças entre cinco e nove anos está acima do peso. Em adição, de acordo com o Ministério da Saúde, nessa faixa etária, 12,9% são obesos.
A obesidade infantil é caracterizada pelo excesso de gordura corporal em crianças de até 12 anos, enquanto o sobrepeso ocorre quando o peso da criança está, no mínimo, 15% acima do peso de referência para a sua idade. Esse diagnóstico também pode ser realizado através do cálculo do IMC (índice de massa muscular).
Nesse sentido, a obesidade é considerada um problema de saúde por estar relacionada com diversas doenças crônicas, como diabetes, hipertensão, doenças cardíacas e má formação do esqueleto. O excesso de peso pode gerar dificuldades para a criança executar atividades e brincadeiras comuns da infância. Portanto, não trata-se de uma questão estética, mas sim de qualidade de vida, tanto para adultos como para crianças. No caso dos pequenos, a obesidade infantil pode reduzir as expectativa de vida do indivíduo, já que o mesmo poderá desencadear essas doenças crônicas mais cedo.
A obesidade infantil no contexto da pandemia
Com o fechamento das escolas e a necessidade de ficarmos em casa, diminuímos drasticamente nosso espaço de convívio. Mesmo aqueles que não tinham uma prática de exercício regular, se viram até mesmo sem as caminhadas até o estacionamento ou o deslocamento dentro do escritório. Para as crianças, a perda de atividades físicas foi ainda maior, já que elas se movimentam bastante na escola.
Além disso, com os pais mais sobrecarregados do nunca, é natural que haja menos tempo para planejar as refeições. Os congelados, sucos prontos, lanches e fast food se mostram uma ótima opção para a falta de tempo. Em contrapartida, a grande concentração de sódio, açúcar e gordura contida nesses alimentos contribui para o ganho de peso. Esses são exemplos de calorias vazias referidas no estudo americano.
Se no começo a quarentena parecia algo temporário, hoje temos um pouco mais de segurança para presumir que o “normal” não deverá voltar tão cedo. Desse modo, a escola pode auxiliar as famílias em alguns aspectos importantes.
1- Conscientizar sobre os problemas causados pela obesidade infantil
A informação é sempre um bom ponto de partida. Mesmo que não haja certeza sobre o retorno das aulas presenciais, a escola pode preparar conteúdos relacionados ao tema para alertar os pais. Seja por meio da professora durante as reuniões, ou até mesmo no grupo da escola, a gestão deve mostrar para as famílias a importância de se conscientizar sobre o problema. Assim, é possível tomar medidas para combatê-lo, evitando as consequências a longo prazo.
2- Incentivar as crianças a participar da rotinas da casa, especialmente o preparo das refeições
Uma das maneiras de manter o alunos motivados a estudar nesse período de aulas remotas é propor atividades relacionadas com a vivência diária. Dentro dessa rotina, os professores podem introduzir nas aulas o preparo de receitas simples e que levem ingredientes mais saudáveis.
A autonomia das crianças para manuseio dos equipamentos deve sempre obedecer a idade delas, para garantir sua segurança. Bolachas de aveia, pão de queijo, salada de frutas, danoninho caseiro, panquecas, gelatina, bolo integral de chocolate e sanduíches naturais são apenas algumas das opções.
Antes de propor a atividade, os professores devem verificar com os pais a possibilidade de realização dela, enviar a lista de ingredientes e combinar o dia de execução. Assim, todos poderão participar da atividade tendo em mãos os recursos necessários.
3- Diminuir o tempo de tela e propor atividades físicas
A execução das aulas de educação física é um pouco mais complicada no modelo a distância. Mas isso não significa que as crianças não possam se mexer dentro de casa mesmo.
- Dançar;
- Pular corda;
- Fazer polichinelos;
- Bambolê;
- Amarelinha;
- Circuto de obstáculos;
- Alongamento.
Essas atividades não exigem muito espaço e podem ser feitas dentro de casa, basta arrastar os móveis. Mesmo que o professor de educação física não consiga acompanhar a atividade com os alunos, é muito importante que o diálogo com as famílias se mantenha.
A prática de exercícios é importante tanto para pais como para alunos. Desse modo, a prática de atividades em conjunto podem ser propostas às famílias. Se possível, pais e filhos podem sair para uma caminhada curta no bairro, seja no começo do dia ou no fim da tarde. As crianças também podem acompanhar os pais quando forem passear com os cães, lembrando sempre de respeitar os protocolos de distanciamento social e uso de máscaras.